3 de julho de 2007

desço aqui.

photo by Jef Maion

daqui em frente ninguém me seguirá

ou pouca gente.

não sou dada a manadas nem rebanhos

siga eu para o céu, o inferno ou vá a banhos

garanto que vou só.


nem de mim me despeço

essa parte de mim que sempre fica

é até engraçada para a cusquice alheia.

não é ao acaso que se chama à net

a nova aldeia.


agora estou a rir. gosto que não perdi

e é numa sonora gargalhada que digo a quem vier

- eu desço aqui!


o caminho a seguir atapetei-o a jeito

só lá passam os amigos do peito

são sempre muito poucos

e foi ao pensar nisso que me ri.


como já disse acima: desço aqui.


deram-me intenções novas

nem liberdade tive, ao escrever, de ser quem sou

daí que, excepção feita aos amigos já provados

vos diga : adeus que por aqui me vou!


(a quem me estragou isto

por pura falta de imaginação

deixo o postigo aberto

quem sabe olhando bem dentro da vida alheia

encontrem a vida que não vivem

e que nunca terão.)



22 de junho de 2007

À "Lucky" , minha amiga verdadeira.

photo by kriegs


a chuva caía dos olhos


a chuva

sobre a terra sobre as plantas

sobre o amor

a chuva ardia nos olhos

chuva quente

de uma inusitada

e conhecida dor.

20 de junho de 2007

botas para o mundo!

photo by Jef Maion


quero umas botas macias de calcorrear o mundo

mas macias só por dentro, macias para os meus pés

para ir longe sem cansar para ir longe sem doer

botas bem grossas por fora na hora do pontapé!


e são fáceis de encontrar essas botas que preciso

há lojas onde se vendem as botas de montanhez

as botas que não se cansem quando o meu corpo hesitar

na hora certa, na hora de dar com os pés no destino.


quando calçar essas botas ninguém mais me travará

farei todo o meu caminho até a vida acabar, até ao último sopro

sem paragens sem cuidados sem a amostra de um medo

as minhas botas serão do meu futuro, o segredo.


4 de junho de 2007

tempos e mar

photo by Jacek Gasiorowski

é já tempo de mar. desce o calor. (como se não descesse no outono ou no inverno...)

pela tarde baixo à praia . a manhã atordoa-me os sentidos. de manhã oiço aves que despertam.

adormeço nessa música única, a sorrir. é quando as aves se deitam que desperto.

vivo o tempo das aves acordada - não lhes quero perder um som sequer (essas sim, silenciam com o frio).

na praia o rebentar das ondas faz-me vibrar o sangue. corre rápido - anseia. anseia apenas mais.

tempos. temos tempos diferentes. saíste manhã cedo e mergulhaste. eu sei. o mergulho é-te vida. vives nele.

sentindo o mar a este fim de dia sinto-te a ti também. ficaste na água. deixaste nela todo o calor a mais com que acordaste.

quando mergulho num primimitivo esbracejar, acerto os nossos tempos. oiço o teu gargalhar no meu pescoço

como se fosse manhã ainda ou noite já. é tempo de voltar. de novo hora de amar. que o tempo não perdoa

nem nós nos perdoamos perder tempo: tempos de mar e amar e ... pouco mais.


31 de maio de 2007

des-enterrar

photo by Katrin Adam


um homem só

um homem só, caminha

um homem só no caminho

marca passos

na lama velha do tempo

um homem?

o peso dele

um homem

um homem só, arrasta-se

na lama

das histórias não vividas

das lendas

da mentira

um homem vai pelo caminho

erra

um homem

um erro

um homem?

um peso

em terra.


desterre-se o homem?

não - desenterre-se.

30 de maio de 2007


28 de maio de 2007

Tive. Tenho!

Foto gentilmente cedida por Joaquim Antunes

tive um amor

nem sabia. só lhe sabia a palavra quando o canto me surgiu

tive uma amor. um apenas

mas quantos podem dizer com a certeza que eu tenho que o tiveram?

não importa

importa que estava preso esse amor que eu sei que tive. tenho!

e mesmo preso cantava. e mesmo preso ensinava a cantar quem o ouvia

a ser livre - e estava preso ! - sabia ele ensinar lá de dentro da gaiola

ensinou-me a Liberdade

ensinou-me a pouca arte que ainda me faz viver e, às vezes, até sonhar

tive um amor - o primeiro

perdi-o quando soltou o assobio derradeiro de ave presa sem voar.

nesse momento preciso, como se fosse normal, acabara de o ganhar.

o meu amor - o primeiro

o único e derradeiro.



medíocre-idade

photo by Uwe Bachmann


saio da letargia. nada como a fervura de uma trovoada no ar para me acender todos os sentidos.

é bom sentir-me viva. elétrica. pronta a soltar faísca. raios demolidores e belos se possível.

mas se beleza não houver que importa? a beleza não passa de um conceito e, para mim, a violência natural é bela sempre.

avanço de encontro à tempestade tão disposta a bebê-la como ao café com leite esta manhã: esfomeadamente!

ah, que cansaço da mediocridade! da castração mental. das andropausas mal assumidas e banais.

das menopausas lambebotas, na esperança de uma centelhazita de paixão, ainda que clandestina.

farta dos clãs-destino avanço ao sabor da tempestade. de encontro a ela. dessa. da natural!

e rebolo-me nela, num cio de adolescente desperta para a vida a transbordar do copo.

é que eu vivi todas as idades e não esqueci nenhuma. e hei-de morrer a rir de gozo e de prazer ou... dor

tanto me faz, mas com intensidade! tudo o que é pequenino me assusta. excepto uma criança.

uma criança tem todos os sentires em crecimento e nenhum sintoma ainda de medíocre-idade.

porque toda a criança nasceu de uma mulher em tempestade!


26 de maio de 2007

verde

photo by LooK

houve um tempo em que desenhar palavras carregando em teclas frias se tornara uma festa

houve um tempo em que essa festa parecia bem maior porque as palavras eram verdes

as palavras!

as palavras hoje são inodoras e incolores dentro de mim e fora. daí não querer escrever

as palavras traíram-me. as palavras ficaram tão iguais a gente que perderam o verde e me traíram

as palavras!

agora pasto os olhos em verde verdadeiro. imagens reais. não as criadas pelas teclas

as teclas transmitem a minha vibração e os outros sentem o que sinto. deixei-me disso!

escrevo por vício. desencantada das palavras escrevo apenas carregando em teclas. não digo nada.

as palavras traíram e falaram de mim a quem o não poderiam ter feito. a quanta mais gente terão ido

as palavras?

da semelhança ao verde lindo, sementeira, que as palavras que amava dantes tinham com a vida verdadeira

só sobrou a realidade de o verde ser a cor do imaturo e serem as palavras, da imaturidade um bom sinal.

as palavras...

12 de maio de 2007

eu.

Martin Golab


sou pedra. sou pedra

não sinto. não sei

não penso. não movo

não oiço. não tenho

poder ou vontade

não vivo. sou pedra

e não, não é lágrima

o que vês correr

no rosto tão branco

em pedra talhado

é só água fria e branca

caída perdida

em cima de mim

de um sonho quebrado.

9 de maio de 2007

"I can't take my mind of you."

The Killerhippie


dá-se a palavra como se fosse gesto

carícia na distância, mão estendida

afagam-se os cabelos num "olá"

tão frio como assim o manda a vida

não se espera carinho nem agrado

não se espera.

também não se recebe.


cruzaram-se os caminhos e divergiram logo

ou divergiram sempre e só a esse estender de mão

num "olá" frio, desses que a vida ordena

se dá pelo longe que já separa o braço

do outro comboio que com ele cruzou.

e os cabelos nem sequer são tocados

esvoaçam na distância...


"olá"!

ecoa pelos campos

sabendo-se tão bem que ninguém ouve.

4 de maio de 2007

crime do pecado

Kyle Engelhart


eu queria a maçã

ah tanto que a queria!

mas veio o "pecado"

entre Eva e Maria

e não a trinquei

e não a comi

intacta ficou

a bela maçã


findou-se a manhã

a noite fechou

e... foi o pecado

que me devorou.

2 de maio de 2007

Crystal Newton


uma escada - pedi.

uma escada alta. infinita

uma escada de pé como uma alma

uma escada que possa com o peso

de um corpo já sem esperança


uma escada!

uma escada que me leve ao espaço

aonde dizem que estão os que partiram

por alguma escada. mas sem mim.


uma escada. - pedi.

trouxeram-me uma escada e eu subi

estava assente em areia.

e foi desde já muito alto.

tão alto como o verbo sonhar

que enfim caí.


1 de maio de 2007

poema de 3 palavras

May 1 - worker's day
photo by madalena pestana



PRIMEIRO DE MAIO

28 de abril de 2007

a verdadeira prisão

photo by Ian Parker


a verdadeira prisão é já a de nascer.


atirada que fui para a terra mãe

dobra-me o tempo para nela me prender


de que me serve sonhar com o além?

25 de abril de 2007

sem partido!

foto de madalena pestana


não é cravo. é uma rosa nascida ali num canteiro

olhada à hora em que há anos soltei o grito primeiro

de esperança de alegria e de raiva acumulada



é uma rosa molhada pela chuva que caiu

sobre o fogo de artifício onde se queima dinheiro

e apagou-o e parou-o como pararam as armas

com um cravo a tapar os canos que já tinham disparado

tanto destino perdido. tanto sonho amordaçado!



uma rosa por Abril ! não é cravo. não o tenho.

nem o tive nesse dia. roubei uma rosa à pressa e corri

para onde estavam os amigos verdadeiros

uns livres os outros não e urgia libertá-los

não fossem virar os ventos. não fossem mudar vontades

tanta gente não o queria a esse Abril que chegou

pela calada da noite, silencioso e desabrido

a matar as fantasias de um poder de ditadores!


ainda há muitos por aí. a tentar erguer a voz

mas para isso estamos nós já despertos e avisados

bem atentos aos sinais!



uma rosa por Abril ! uma flor de cor modesta

é uma rosa sem partido. mas com o brilho das gotas

vem bem vestida para a Festa!

23 de abril de 2007

gato - meu preto!

photo by Rainer Pawellek


tinha-te a mesa posta - não comeste

abri-te o coração - tu não entraste

estendi-te o corpo nu - não o cobriste

partiste mais depressa que chegaste...


vi-te depois passar acompanhado

num enlevo tal que nem me viste

foi bem melhor assim - saltei para o lado

é que é na margem que mais se resiste.


um gato preto parecia abandonado

seguiu-me e usou a mesa que deixaste

pulou-me para o seio desnudado

ah, ainda bem que nem olhaste!


no rio.

Monica Wilson



no rio no rio aonde me perdi

hei-de encontrar a força tumultosa

que me trará de novo a raiva de escrever

o meu grito por dar

- em verso ou prosa

21 de abril de 2007

sorriso

Andrzej Malecki



venho do inverno para a Primavera

a sorrir de ironia é bom de ver.

saí daqui com raiva e aqui me queria

saí com imensa vontade de bater!



quando é assim retiro

(não sou dada à violência)

finjo seta quebrada e já não firo

e crio outro ser outra existência



mas vim de ler uma palavra brinco

dessas de não retirar e nem ceder

e hoje volto aqui e o verso finco

com toda a ironia que me der prazer!



é aqui o meu espaço e aqui vou ficar

respeito os palhaços mas não me fazem rir

e nem o mais pintado que vier

me fará mudar. no máximo... sorrir!



photo by kangkang kang





muito obrigada a Daniel

que, sem saber

me redespertou para quem sou.

um abraço para ele e para vocês. :)


15 de abril de 2007

"mudasti?"

by sophie thouvenin


mudei. mudei de caminhos levei os meus bens

coisa pouca são: um monte de letras para arrumação

novo o visual. sorriso no rosto. esperança no sorrir

olhar atrevido. ironia em riste como era costume

e ia perdendo com a lida diária com o enfadonho

com o castrador limitado sonho que queriam vender-me

dar ou emprestar. tanto se me dá, não o quero usar.

mudaste?

mudei mas estou muito perto - dentro do que sou

só noutro quintal aqui mesmo ao lado. onde pulo cercas

invado desertos. navego ondas altas. ando em cordas bambas

rio a sete rires com as artimanhas das minhas palavras.


mudaste?

mudei. salvei as entranhas!





9 de abril de 2007

fim deste blog

Erik Reis

dizem que vai chover, que chova então. que a chuva lave tudo. sobretudo as minhas negativas memórias recentes.

não saio da Net, era o que me faltava. já cá ando há uns anos e quem veio atrás que feche ou abra a porta quero lá saber!

com o meu nome já disse o que tinha a dizer.

a partir de agora quando abrir outro blog, só levarei os Amigos comigo, sejam eles mais virtuais ou menos.

esses conhecem-me (talvez outros também, mas tanto se me dá, eu já não os conheço). se isto é recado? é, claro que sim! e para quem é sabe bem o porquê.

não tenho vocação para babaca nem para aduladora de pequenos ou grandes génios. até porque apesar de ter lidado com muita gente de várias artes só conheci 3 génios: o mau génio, o bom génio e o da Lâmpada de Aladino (e mesmo esse era lenda!).


até breve, Amigos! Eu voltarei com a alegria renovada. encontramo-nos numa qualquer esquina desta aldeia virtual.

Beijos e Boa semana.


Madalena Pestana



3 de abril de 2007

"soma e segue"

foto de bonbon_A6dule


isso! fica para aí, acabrunhada

maldiz a sorte a vida e quem lá anda

atira-te (para a cama de preferência

para não te magoares)

ou então da varanda do teu rés-do-chão


mulher há quanto tempo sabes o santo e a senha

que é viver neste espaço onde a artimanha

vence toda a verdade que houver por propagar?!

pára de te queixar ou queixa-te de morte!

a vida que hoje vives é o que é e já não tem recurso.


segue caminho. não percas o teu curso

se és rio, sê rio e finda só no mar!

1 de abril de 2007

o rei

Christopher Reynolds


o homem era rei de nu vestia

passava pelas vilas e cidades

ao contrário do outro, o rei da lenda

este rei ia nu e ninguém ria


o homem anda nu. não ri ninguém

usa coroa sente-se rei e faz a lei

ninguém ri. mas porquê? - perguntam gentes

se nós vemos e rimos gargalhamos?


o que eu ainda não disse, é serem cegos

todos os súbditos do homem que vai nu

e em terra de cegos quem tem um olho

é rei



pode até usar coroa e ser espantalho

pedante analfabeto ou feio como um sapo

não usar sobre o peludo corpo um único trapo

que ninguém ri.



e assim se faz um rei!


17 de março de 2007

fado


Christine P. Newman


quem me fadou esqueceu as palavras certeiras para a sorte

deu-me voz para cantar e eu cantei. de ouvido o que eu ouvia


de instinto tudo aquilo que ao ver sabia que sentia


cantei tantas palavras de vida face à morte!



quem me fadou esqueceu-se do amor que é preciso receber


logo ao abrir os olhos no acto respirável de nascer


aprendi o amor em poema e colo aberto mas alheio


num mundo a descoberto de bom senso - enlouqueci


(mais fácil era assim esquecer. mas nem louca esqueci...)



ah, quem me fadou lembrou pelo menos a palavra exacta para a raiva!

que foi crescendo em mim como um trepadeira envolvente


até conseguir - qual génio - soltar-me da garrafa rolhada com pressão


e gritar-vos a todos:


corruptos ou irmã, Lisboa ou Moura adormecida com a Salúquia na mente


- o raio vos parta a todos! louca ou não, eu fui fadada gente!



13 de março de 2007

Rodney

sei nós.

nós de prender.

nós de agarrar

me!

de atar-me de pés e mãos

a não correr por aí

a não ouvir

a não ver

a não sentir

a não querer

(que o sonhar já eu perdi.)

sei nós

envolvo-me neles

entranço-me

enrosco enleio

os meus nós

são o meu freio

e com eles lido bem

não incomodo ninguém!

sei nós

e ato-me a mim

- o único ser que sei

neste mundo aonde vim.


10 de março de 2007

febres e outro verbo

Too tall?

madalena pestana

a febre a febre natural de quando se é gente e se adoece

essa febre.

fez-me subir a mim. não só ao mercúrio do termómetro.

o meu ainda é desses . gosto assim.

não lhe dei atenção

nasci doente de mãe e acostumei-me ao estado

mas devia ter dado. desta vez.

fui subindo. cresci em sentimentos e emoções, quase alegrias.

delírios, claro.

quando estou saudável não me deixo enganar nos sentires

não há tempo.

imaginem: no delírio, no meio do delírio dei em acreditar

e logo em gente!


quando a febre baixou. e levou tempo! magoei-me no tombo

lá de cima

daquele verbo que eu já tinha esquecido e a febre devolveu

à minha vida preparada para a morte e nada mais.


hoje fragilizada pelas drogas e pelos factos reais

consigo rir de tudo


-valham-me os deuses que há!

será que nunca mais acaba o entrudo por cá? -


escrito isto de rajada só para o registar

volto para a cama.

na segunda feira volto ao trabalho com a verdade à tona

e felizmente

já com um cromo novo para trocar!


3 de março de 2007

o verbo erguer(se)

B Berenika


ergo-me. faço por isso.

acima de todas as razões e todas as verdades

das mentiras também

as pequenas (irritantes) mentiras como os roubos pequenos

ergo-me

agora sim. iço-me a pulso até não poder já tocar o chão

olho

parece que perdi gente. de caminho. no subir.

ergo-me

ainda mais. para mais longe. mais acima. mais fora.

caem-me os braços

o cansaço saiu deles e deixou-os pendidos

sem ocupação.

ergo-me mais ainda num esforço último. desmesurado!


agora perdi tudo

agora sim - já não oiço ninguém e nada vejo

não sofro porque ao não ver e ouvir, não sinto nem desejo


ergui-me.

- consegui toda a paz que cabe num bocejo


25 de fevereiro de 2007

e há a tristeza

paper-life II  (sexy decay)

madalena pestana

a tristeza é uma serpentina transparente

a envolver a cercar

a tolher a prender a amarrar a razão

até que não haja espaço entre o que é vivo e ela

aperta sufoca inibe até o grito.


gente rasgada amarfanhada no lutar

é tudo quanto sobra dessa tempestade


a tristeza é o reverso da verdade

e o preço de amar.


24 de fevereiro de 2007

mais tarde... sim.

Gerhardt Thompson


há um sacrifício que dura uma vida

a oferta à morte.

e ofereço-me sim quase a toda a hora

voluntariamente

na ruga que surge no olhar cansado

no desesperar.


antes que apodreça não me peçam mais

não se canse o tempo

não dou a palavra. essa sobretudo!

não me vou calar

não dou os meus sonhos por mais absurdos

preciso sonhar

são minhas são meus - palavras e sonhos

e o sol e os rios e as raivas e a dor

vivo em carne exposta

vivo em ferida aberta e ainda assim a rir

vivo em vida exposta

por quem me não ama me abafa o amor me recusa a cama

não a vou cobrir!


21 de fevereiro de 2007

tantas águas

Victor Tackett


tantas águas me deslizaram sobre o corpo

águas várias temperaturas várias

muitos caudais diferentes

tantas águas correntes. tantas águas!

o corpo duro-pedra amoleceu moldou-se

sujeitou os ângulos agudos

arredondou as formas qual corpo de mãe

talvez tenha parido - pedras. pedras rigorosas

como invernos.


tantas águas me correram sobre o corpo

sem pedir licença - como o tempo

desgastando moendo corroendo

tantas águas que me sinto quase líquida agora

rolo com elas quando correm, não sobre mim

eu nelas

a dissolver-me até à transparência

de olhar um espelho e nem sequer me ver.


19 de fevereiro de 2007

... de além morte.

valternet

entraste-me nos sonhos de uma noite de quase pesadelo

a cantar.

pensei:

coisa engraçada de se ouvir quando a alma nos dói!

e voltei a dormir

mas o canto insistente não parava. um cão ladrou também

abri os olhos

e do meio do inverno vejo-te poisado sobre o muro

fizeste-me sorrir.

atirei-te comida lá para fora. esvoaçaste. defendi-te do cão.

eram 7.30 da manhã. desligara o telefone. não ia trabalhar.

voltei para a cama.

sempre te ouvi conselhos. sem arrependimento.

e de momento

bem estava a precisar.

se dúvidas tivesse (e tanto a cabeça me doía!) teria de as perder.

descansa amigo.

eu sei: é tarde. e eu não tenho tempo para parar.

até logo.

não deixes de aparecer de vez em quando. mesmo que eu esteja bem...

ainda vai levar tempo, ao que parece, para nos reencontramos

nesse amor

que além de nós não entendeu ninguém.


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