31 de maio de 2007

des-enterrar

photo by Katrin Adam


um homem só

um homem só, caminha

um homem só no caminho

marca passos

na lama velha do tempo

um homem?

o peso dele

um homem

um homem só, arrasta-se

na lama

das histórias não vividas

das lendas

da mentira

um homem vai pelo caminho

erra

um homem

um erro

um homem?

um peso

em terra.


desterre-se o homem?

não - desenterre-se.

30 de maio de 2007


28 de maio de 2007

Tive. Tenho!

Foto gentilmente cedida por Joaquim Antunes

tive um amor

nem sabia. só lhe sabia a palavra quando o canto me surgiu

tive uma amor. um apenas

mas quantos podem dizer com a certeza que eu tenho que o tiveram?

não importa

importa que estava preso esse amor que eu sei que tive. tenho!

e mesmo preso cantava. e mesmo preso ensinava a cantar quem o ouvia

a ser livre - e estava preso ! - sabia ele ensinar lá de dentro da gaiola

ensinou-me a Liberdade

ensinou-me a pouca arte que ainda me faz viver e, às vezes, até sonhar

tive um amor - o primeiro

perdi-o quando soltou o assobio derradeiro de ave presa sem voar.

nesse momento preciso, como se fosse normal, acabara de o ganhar.

o meu amor - o primeiro

o único e derradeiro.



medíocre-idade

photo by Uwe Bachmann


saio da letargia. nada como a fervura de uma trovoada no ar para me acender todos os sentidos.

é bom sentir-me viva. elétrica. pronta a soltar faísca. raios demolidores e belos se possível.

mas se beleza não houver que importa? a beleza não passa de um conceito e, para mim, a violência natural é bela sempre.

avanço de encontro à tempestade tão disposta a bebê-la como ao café com leite esta manhã: esfomeadamente!

ah, que cansaço da mediocridade! da castração mental. das andropausas mal assumidas e banais.

das menopausas lambebotas, na esperança de uma centelhazita de paixão, ainda que clandestina.

farta dos clãs-destino avanço ao sabor da tempestade. de encontro a ela. dessa. da natural!

e rebolo-me nela, num cio de adolescente desperta para a vida a transbordar do copo.

é que eu vivi todas as idades e não esqueci nenhuma. e hei-de morrer a rir de gozo e de prazer ou... dor

tanto me faz, mas com intensidade! tudo o que é pequenino me assusta. excepto uma criança.

uma criança tem todos os sentires em crecimento e nenhum sintoma ainda de medíocre-idade.

porque toda a criança nasceu de uma mulher em tempestade!


26 de maio de 2007

verde

photo by LooK

houve um tempo em que desenhar palavras carregando em teclas frias se tornara uma festa

houve um tempo em que essa festa parecia bem maior porque as palavras eram verdes

as palavras!

as palavras hoje são inodoras e incolores dentro de mim e fora. daí não querer escrever

as palavras traíram-me. as palavras ficaram tão iguais a gente que perderam o verde e me traíram

as palavras!

agora pasto os olhos em verde verdadeiro. imagens reais. não as criadas pelas teclas

as teclas transmitem a minha vibração e os outros sentem o que sinto. deixei-me disso!

escrevo por vício. desencantada das palavras escrevo apenas carregando em teclas. não digo nada.

as palavras traíram e falaram de mim a quem o não poderiam ter feito. a quanta mais gente terão ido

as palavras?

da semelhança ao verde lindo, sementeira, que as palavras que amava dantes tinham com a vida verdadeira

só sobrou a realidade de o verde ser a cor do imaturo e serem as palavras, da imaturidade um bom sinal.

as palavras...

12 de maio de 2007

eu.

Martin Golab


sou pedra. sou pedra

não sinto. não sei

não penso. não movo

não oiço. não tenho

poder ou vontade

não vivo. sou pedra

e não, não é lágrima

o que vês correr

no rosto tão branco

em pedra talhado

é só água fria e branca

caída perdida

em cima de mim

de um sonho quebrado.

9 de maio de 2007

"I can't take my mind of you."

The Killerhippie


dá-se a palavra como se fosse gesto

carícia na distância, mão estendida

afagam-se os cabelos num "olá"

tão frio como assim o manda a vida

não se espera carinho nem agrado

não se espera.

também não se recebe.


cruzaram-se os caminhos e divergiram logo

ou divergiram sempre e só a esse estender de mão

num "olá" frio, desses que a vida ordena

se dá pelo longe que já separa o braço

do outro comboio que com ele cruzou.

e os cabelos nem sequer são tocados

esvoaçam na distância...


"olá"!

ecoa pelos campos

sabendo-se tão bem que ninguém ouve.

4 de maio de 2007

crime do pecado

Kyle Engelhart


eu queria a maçã

ah tanto que a queria!

mas veio o "pecado"

entre Eva e Maria

e não a trinquei

e não a comi

intacta ficou

a bela maçã


findou-se a manhã

a noite fechou

e... foi o pecado

que me devorou.

2 de maio de 2007

Crystal Newton


uma escada - pedi.

uma escada alta. infinita

uma escada de pé como uma alma

uma escada que possa com o peso

de um corpo já sem esperança


uma escada!

uma escada que me leve ao espaço

aonde dizem que estão os que partiram

por alguma escada. mas sem mim.


uma escada. - pedi.

trouxeram-me uma escada e eu subi

estava assente em areia.

e foi desde já muito alto.

tão alto como o verbo sonhar

que enfim caí.


1 de maio de 2007

poema de 3 palavras

May 1 - worker's day
photo by madalena pestana



PRIMEIRO DE MAIO

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