31 de maio de 2007
des-enterrar
um homem só
um homem só, caminha
um homem só no caminho
marca passos
na lama velha do tempo
um homem?
o peso dele
um homem
um homem só, arrasta-se
na lama
das histórias não vividas
das lendas
da mentira
um homem vai pelo caminho
erra
um homem
um erro
um homem?
um peso
em terra.
desterre-se o homem?não - desenterre-se.
30 de maio de 2007
28 de maio de 2007
Tive. Tenho!
tive um amor
nem sabia. só lhe sabia a palavra quando o canto me surgiu
tive uma amor. um apenas
mas quantos podem dizer com a certeza que eu tenho que o tiveram?
não importa
importa que estava preso esse amor que eu sei que tive. tenho!
e mesmo preso cantava. e mesmo preso ensinava a cantar quem o ouvia
a ser livre - e estava preso ! - sabia ele ensinar lá de dentro da gaiola
ensinou-me a Liberdade
ensinou-me a pouca arte que ainda me faz viver e, às vezes, até sonhar
tive um amor - o primeiro
perdi-o quando soltou o assobio derradeiro de ave presa sem voar.
nesse momento preciso, como se fosse normal, acabara de o ganhar.
o meu amor - o primeiro
o único e derradeiro.
medíocre-idade
saio da letargia. nada como a fervura de uma trovoada no ar para me acender todos os sentidos.
é bom sentir-me viva. elétrica. pronta a soltar faísca. raios demolidores e belos se possível.
mas se beleza não houver que importa? a beleza não passa de um conceito e, para mim, a violência natural é bela sempre.
avanço de encontro à tempestade tão disposta a bebê-la como ao café com leite esta manhã: esfomeadamente!
ah, que cansaço da mediocridade! da castração mental. das andropausas mal assumidas e banais.
das menopausas lambebotas, na esperança de uma centelhazita de paixão, ainda que clandestina.
farta dos clãs-destino avanço ao sabor da tempestade. de encontro a ela. dessa. da natural!
e rebolo-me nela, num cio de adolescente desperta para a vida a transbordar do copo.
é que eu vivi todas as idades e não esqueci nenhuma. e hei-de morrer a rir de gozo e de prazer ou... dor
tanto me faz, mas com intensidade! tudo o que é pequenino me assusta. excepto uma criança.
uma criança tem todos os sentires em crecimento e nenhum sintoma ainda de medíocre-idade.
porque toda a criança nasceu de uma mulher em tempestade!
26 de maio de 2007
verde
houve um tempo em que desenhar palavras carregando em teclas frias se tornara uma festa
houve um tempo em que essa festa parecia bem maior porque as palavras eram verdes
as palavras!
as palavras hoje são inodoras e incolores dentro de mim e fora. daí não querer escrever
as palavras traíram-me. as palavras ficaram tão iguais a gente que perderam o verde e me traíram
as palavras!
agora pasto os olhos em verde verdadeiro. imagens reais. não as criadas pelas teclas
as teclas transmitem a minha vibração e os outros sentem o que sinto. deixei-me disso!
escrevo por vício. desencantada das palavras escrevo apenas carregando em teclas. não digo nada.
as palavras traíram e falaram de mim a quem o não poderiam ter feito. a quanta mais gente terão ido
as palavras?