25 de fevereiro de 2007
e há a tristeza
madalena pestana
a tristeza é uma serpentina transparente
a envolver a cercar
a tolher a prender a amarrar a razão
até que não haja espaço entre o que é vivo e ela
aperta sufoca inibe até o grito.
gente rasgada amarfanhada no lutar
é tudo quanto sobra dessa tempestade
a tristeza é o reverso da verdade
e o preço de amar.
24 de fevereiro de 2007
mais tarde... sim.
não me vou calar
não dou os meus sonhos por mais absurdos
preciso sonhar
são minhas são meus - palavras e sonhos
e o sol e os rios e as raivas e a dor
vivo em carne exposta
vivo em ferida aberta e ainda assim a rir
vivo em vida exposta
por quem me não ama me abafa o amor me recusa a cama
não a vou cobrir!
21 de fevereiro de 2007
tantas águas
desgastando moendo corroendo
19 de fevereiro de 2007
... de além morte.
entraste-me nos sonhos de uma noite de quase pesadelo
a cantar.
pensei:
coisa engraçada de se ouvir quando a alma nos dói!
e voltei a dormir
mas o canto insistente não parava. um cão ladrou também
abri os olhos
e do meio do inverno vejo-te poisado sobre o muro
fizeste-me sorrir.
atirei-te comida lá para fora. esvoaçaste. defendi-te do cão.
eram 7.30 da manhã. desligara o telefone. não ia trabalhar.
voltei para a cama.
sempre te ouvi conselhos. sem arrependimento.
e de momento
bem estava a precisar.
se dúvidas tivesse (e tanto a cabeça me doía!) teria de as perder.
descansa amigo.
eu sei: é tarde. e eu não tenho tempo para parar.
até logo.
não deixes de aparecer de vez em quando. mesmo que eu esteja bem...
ainda vai levar tempo, ao que parece, para nos reencontramos
nesse amor
que além de nós não entendeu ninguém.
18 de fevereiro de 2007
sem carne. vale.
o dia fez-se nevoeiro mesmo na curva da estrada
- meu amor diz, o que eu sonho será uma mascarada?
quanto mais tinha valido não ter perguntado nada!
respondeste uma palavra. a palavra não esperada
quanto mais tinha valido não teres respondido nada!
a noite veio mais depressa fechar saídas à estrada.
6 de fevereiro de 2007
sim.
ameaça-me a chuva. o bom senso ameça-me. quero lá saber!
hoje tenho a resposta a sair-me em grito dos lábios bem abertos
e a resposta é sim. sim com maiúsculas. sim em bold.
sim em todo o tipo de letra destacável. quero que toda a gente leia SIM.
sim a quê? pois é. isso eu não sei bem ainda. falta-me a pergunta
mas a resposta hoje é o nítido, o explícito sim com que acordei.
para o inferno o juízo! para o inferno a tortura do silêncio!
para o inferno a senhoril prudência! hoje a resposta é sim!
afinal quem sou eu? - uma mulher- escrevi ao definir-me.
e uma mulher diz sim ou não. talvez não sei o que é.
a vida não é talvez. a vida é e pronto. a vida é sempre sim.
hoje eu sou sim. hoje sou vida. hoje sou uma mulher em positivo ser.
sim. sim. sim!
ainda que não perguntem nunca, a resposta é sim!
2 de fevereiro de 2007
não quero quebrar.
não juro. não juro. não sou de jurar!
quis-me assim sozinha desde meio caminho
quis-me caminhante de noites vazias
quis-me pés descalços sobre pedras frias
sem sonhos projectos lendas ou amantes
braços dados vidas estradas enleantes.
terei conseguido? sim. até agora
e lá vou seguindo meu caminho fora
não volto a amar. não volto. voltei?
que pergunta a minha se nem eu o sei.
só sei que não quero voltar a sofrer
e se eu não puder? se um dia quiser? o que hei-de fazer?
não faço promessas para as não quebrar
não juro. não juro. não sou de jurar...
1 de fevereiro de 2007
celebração.
gentes que riem pela mesma razão
que a outros sem saberem, contraria.
disfarces da civilização
todos se cumprimentam
com a mesma alegria.
mas afinal que importa?
nada ou tanto como neste inverno
parecer o sol de verão...
o que é realidade? o que é a fantasia?
e correr lá fora a celebrar o dia!