25 de fevereiro de 2007

e há a tristeza

paper-life II  (sexy decay)

madalena pestana

a tristeza é uma serpentina transparente

a envolver a cercar

a tolher a prender a amarrar a razão

até que não haja espaço entre o que é vivo e ela

aperta sufoca inibe até o grito.


gente rasgada amarfanhada no lutar

é tudo quanto sobra dessa tempestade


a tristeza é o reverso da verdade

e o preço de amar.


24 de fevereiro de 2007

mais tarde... sim.

Gerhardt Thompson


há um sacrifício que dura uma vida

a oferta à morte.

e ofereço-me sim quase a toda a hora

voluntariamente

na ruga que surge no olhar cansado

no desesperar.


antes que apodreça não me peçam mais

não se canse o tempo

não dou a palavra. essa sobretudo!

não me vou calar

não dou os meus sonhos por mais absurdos

preciso sonhar

são minhas são meus - palavras e sonhos

e o sol e os rios e as raivas e a dor

vivo em carne exposta

vivo em ferida aberta e ainda assim a rir

vivo em vida exposta

por quem me não ama me abafa o amor me recusa a cama

não a vou cobrir!


21 de fevereiro de 2007

tantas águas

Victor Tackett


tantas águas me deslizaram sobre o corpo

águas várias temperaturas várias

muitos caudais diferentes

tantas águas correntes. tantas águas!

o corpo duro-pedra amoleceu moldou-se

sujeitou os ângulos agudos

arredondou as formas qual corpo de mãe

talvez tenha parido - pedras. pedras rigorosas

como invernos.


tantas águas me correram sobre o corpo

sem pedir licença - como o tempo

desgastando moendo corroendo

tantas águas que me sinto quase líquida agora

rolo com elas quando correm, não sobre mim

eu nelas

a dissolver-me até à transparência

de olhar um espelho e nem sequer me ver.


19 de fevereiro de 2007

... de além morte.

valternet

entraste-me nos sonhos de uma noite de quase pesadelo

a cantar.

pensei:

coisa engraçada de se ouvir quando a alma nos dói!

e voltei a dormir

mas o canto insistente não parava. um cão ladrou também

abri os olhos

e do meio do inverno vejo-te poisado sobre o muro

fizeste-me sorrir.

atirei-te comida lá para fora. esvoaçaste. defendi-te do cão.

eram 7.30 da manhã. desligara o telefone. não ia trabalhar.

voltei para a cama.

sempre te ouvi conselhos. sem arrependimento.

e de momento

bem estava a precisar.

se dúvidas tivesse (e tanto a cabeça me doía!) teria de as perder.

descansa amigo.

eu sei: é tarde. e eu não tenho tempo para parar.

até logo.

não deixes de aparecer de vez em quando. mesmo que eu esteja bem...

ainda vai levar tempo, ao que parece, para nos reencontramos

nesse amor

que além de nós não entendeu ninguém.


18 de fevereiro de 2007

sem carne. vale.

Rainer Schlepphorst


o dia fez-se nevoeiro mesmo na curva da estrada

- meu amor diz, o que eu sonho será uma mascarada?

quanto mais tinha valido não ter perguntado nada!

respondeste uma palavra. a palavra não esperada

quanto mais tinha valido não teres respondido nada!

a noite veio mais depressa fechar saídas à estrada.


6 de fevereiro de 2007

sim.

Mark Duffy


ameaça-me a chuva. o bom senso ameça-me. quero lá saber!

hoje tenho a resposta a sair-me em grito dos lábios bem abertos

e a resposta é sim. sim com maiúsculas. sim em bold.

sim em todo o tipo de letra destacável. quero que toda a gente leia SIM.


sim a quê? pois é. isso eu não sei bem ainda. falta-me a pergunta

mas a resposta hoje é o nítido, o explícito sim com que acordei.

para o inferno o juízo! para o inferno a tortura do silêncio!

para o inferno a senhoril prudência! hoje a resposta é sim!


afinal quem sou eu? - uma mulher- escrevi ao definir-me.

e uma mulher diz sim ou não. talvez não sei o que é.

a vida não é talvez. a vida é e pronto. a vida é sempre sim.

hoje eu sou sim. hoje sou vida. hoje sou uma mulher em positivo ser.



sim. sim. sim!

ainda que não perguntem nunca, a resposta é sim!


2 de fevereiro de 2007

não quero quebrar.

Guerbadot Samuel


não faço promessas para as não quebrar

não juro. não juro. não sou de jurar!

quis-me assim sozinha desde meio caminho

quis-me caminhante de noites vazias

quis-me pés descalços sobre pedras frias

sem sonhos projectos lendas ou amantes

braços dados vidas estradas enleantes.


terei conseguido? sim. até agora

e lá vou seguindo meu caminho fora

não volto a amar. não volto. voltei?

que pergunta a minha se nem eu o sei.

só sei que não quero voltar a sofrer

e se eu não puder? se um dia quiser? o que hei-de fazer?


não faço promessas para as não quebrar

não juro. não juro. não sou de jurar...


1 de fevereiro de 2007

celebração.

Flor branca no inverno

madalena pestana




contraditório dia

tanto como a flor branca

junto à estrada poluída.

manhã de inverno cheia

a sol de verão

gentes que riem pela mesma razão

que a outros sem saberem, contraria.

disfarces da civilização

todos se cumprimentam

com a mesma alegria.


mas afinal que importa?

nada ou tanto como neste inverno

parecer o sol de verão...

o que é realidade? o que é a fantasia?

deixem-me é abrir a porta

e correr lá fora a celebrar o dia!

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